Nas águas do meu avô




Parte III

Eles têm a opinião de que preto é grosseiro, fala demais, é preguiçoso, 

pois sim, julgavam nosso valor

pelos dentes, 

pelo peso, 

pelas medidas do tórax.

E todo o resto.

Coitados.

Tão atrasados.

Vovô prosseguiu marchando sozinho, 

Com esperança - Um dia, isso vai acabar.

Tropeçava, às vezes, levantava.

Ele sabia que não é natural ficar em pé sempre.

Não se pode contrariar a natureza, sem se curvar

Então, regulava a cisterna pra água não desviar da rota natural

Continuava.

Estabeleceu-se, aconteceu, 

Banhou a terra pra gente colher.

Deixou sementes que brotaram 

No solo fértil

Recolheu-se em novembro...

E os momentos de dores mais profundas da minha vida forma aqueles que mais revivi você, vovô.

E hoje compreendo quem eu sou, uma maré subindo e descendo.

E não uma coisa só 

E banhada pelo seu amor

E consciente da sua presença

E a consciência plena de que as águas que correm nas minhas veias formas abertas por você

E todos os meus finais estão inconclusivos

E tudo ainda é possível na insistência da sua existência

Até a próxima.




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