Eu considero o seguinte texto muito significativo; então, eu solicitei à minha filha, a professora Gláucia Pereira Brito, autora do texto, a levá-lo a conhecimento dos meus diletos leitores, amigos e amigas.
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Nas águas do meu avô
Parte I
Janeiro, dia bom. Novembro, ano esquisito
Em todo o fim, o início de tudo
Fui buscar na solidão e no silêncio da memória
momentos fugidios de coisas vividas na infância,
insistentes ainda em mim
Seu Joaquim Pedro estava lá,
Abrindo as cisternas pras águas passarem.
Cheguei à casa do meu avô, corri para abraçá-lo.
Chegasse alguns minutos mais tarde, ele já teria partido.
Ele não sobreviverá mais uma noite
Que horror! Que calafrio! Que momento único!
Um relâmpago partiu minha alma em duas metades iguais,
da ausência, da presença
Meu desejo era não deixá-lo ir
Abracei-o como se fosse o último,
o mais longo.
Era preciso reverenciá-lo. Prolongar sua existência.
Minha vida com ele incluía doçura,
as trevas não eram percebidas.
Sem ele,
a vida me seria inteiramente não concluída
preencher os dias vazios seria penoso
Eu, sozinha, impopular, maltratada, julgada
Não querendo me encaixar
Eu sabia que viveria a sobra daquilo que era bom.
O medo do abandono me afogava.
O último respiro dele seria meu primeiro mergulho no desconhecido.
Tudo parecia consolidado, restava aquela gota.
Cantos de despedidas já eram sentidos
nos olhos lacrimejantes dos filhos. Amigos, vizinhos
Somente a união da espera
Era tudo tão finito.
Continua.
07/05/2023
Texto publicado no livro Revelar-se Autor -- Memórias, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, p. 60, 61 e 63, em abril/2023
Que boa reflexão nos traz esse texto, de que é importante para cada ser humano perceber o quanto o outro faz parte da nossa vida e história!
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