VOCÊ JÁ SE PERGUNTOU O PORQUÊ?


                              


“Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça.” (FREYRE, 2006, p. 80)


“A miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a distância social que de outro modo se teria conservado enorme entre a casa-grande e [...] a senzala” (FREYRE, 2006, p. 16)


“Desde logo salientamos a doçura nas relações de senhores com escravos domésticos, talvez maior no Brasil do que em qualquer outra parte da América (FREYRE, 2006, p. 225)


     Estes trechos retratam a crença de grande parte da sociedade brasileira no século XX: a de que a escravização negra no Brasil foi amena. Muitas pessoas acreditavam ser harmoniosas as relações entre pessoas brancas e pessoas negras, entre donos de escravizados e escravizados. O sociólogo Gilberto Freyre apenas deu uma roupagem científica a essa crença que já vagava no imaginário popular: o mito da “democracia racial”.


A justificativa? Somos uma nação miscigenada!


     Pois bem, você já ouviu pessoas dizerem frases como: “eu não sou racista, tenho até amigos negros” ou “impossível eu ser racista, tenho parentes negros”? Meu amigo, minha amiga, eu te digo: o fato de você conviver com pessoas negras não isenta o fato de você poder ser racista, assim como, também, não te dá permissão para ter discursos, disfarçados como “brincadeiras”, que inferiorizem as pessoas negras. 

     Ter amigos, conhecidos ou parentes negros não te dá permissão de chamar as pessoas negras de macacas, não te dá permissão de opinar sobre a aparência de uma pessoa negra que tenha cabelo crespo, não te dá o direiro de dizer que o racismo é vitimismo ou “frescura”, não te dá o direito de questionar os mais de 300 anos de escravização negra e não te dá o direito de negar que, por causa desse período, ainda hoje, existe sim o racismo.

     Você já se perguntou o porquê de, apesar de existir o salário mínimo e os pisos salariais para cada profissão, os trabalhadores brancos receberem, em média, 75% a mais do que trabalhadores negros (IBGE, 2019)? O porquê de mais de 70% das pessoas mais pobres do Brasil serem negras (IBGE e PNAD, 2019)? O porquê de a maior taxa de abandono escolar se dar entre jovens negros (IBGE, 2019)? O porquê de a maior parte da população que vive em comunidades e moradias irregulares ser negra (IBGE e PNAD, 2019)? O porquê de o acesso aos serviços de Saúde ser mais dificultoso para as pessoas negras (IBGE, 2019)? O porquê de a maior taxa de morte por COVID-19 se dar entre pessoas negras (InformaSUS - UFSCAR, 2021)? Se a sua resposta para tudo isso for parecida com: “isso é culpa das próprias pessoas negras”, “as pessoas negras são mais pobres porque são preguiçosas, não estudam e não trabalham”, “as pessoas negras não se cuidam”, “as pessoas negras não se esforçam o suficiente”, pode ter certeza que você está vivendo num conto de fadas! 

     Se você for uma pessoa que gosta de aprender e se desenvolver, te convido a buscar as respostas para essas e tantas outras perguntas, te convido a estudar sobre autores negros e negras, a ler, a aprender e a se desenvolver. 


Isabella de Brito Ungaro.

Até a próxima.








REFERÊNCIAS 


ACSERALD, Maria. O Patrimônio vivo em questão: perspectivas comparadas das experiências de Registro de pessoas e grupos culturais em Pernambuco, Ceará e Alagoas. VII ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, UFBA: Salvador – BA, 2011. 


ADOLFO, Sérgio Paulo. Existe o mundo que o português criou? Brasil, 2002. Terra roxa e outras terras - Revista de Estudos Literários. v. 1, p. 24-31, 2002. 


ARAUJO, Ricardo Benzaquen. Guerra e paz : Casa-Grande & Senzala e a obra Gilberto Freyre nos anos 30. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994. 


ARBOUSSE-BASTIDE, Paul. Um engenheiro francês no Brasil, 1940. FREYRE, Gilberto, Rio de Janeiro, José Olympio. 

BARBIERI, Cesar. Um jeito brasileiro de aprender a ser. Brasília: DEFER, Centro de Informação e Documentação sobre a Capoeira (CIDOCA/DF), 1993. BRASIL.


FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala. Editora Global, 48ª ed. São Paulo. 2006. 


HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, v. 2, 2003.


HOEBEL, E.; FROST, E. Antropologia cultural e social. 2. ed. São Paulo: Cultrix,

1984.


HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.


MELLO, Luiz G. de. Antropologia cultural: iniciação, teoria e temas. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. 


MELO, Alfredo César. Saudosismo e crítica social em Casa grande & senzala: a articulação de uma política da memória e de uma utopia. São Paulo: vozes do nordeste, v. 23, n. 67, 2009.


RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das letras, 2008.


Por que as pessoas negras são as que morrem mais de COVID-19 no Brasil? Saúde da população negra. InformaSUS - UFSCAR, 2021.





































































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